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900 gols de Pele



Telé? Quem é Telé? Um menino de quinze anos que o técnico Lula, do Santos, mandou entrar no lugar de Del Vecchio, no fim do jogo contra o Corinthians de Santo André (SP). Já estava 5 a 1 e uma caravana vinda de Santos queria ver o menino juvenil, que jogava mais do que muita gente grande. 

Jogava mesmo: deu um passe para um gol, fez outro, o mais bonito daquela tarde de 7 de setembro de 1956. 

Telé driblou um só com o balanço do corpo, jogou a bola na frente, ganhou do outro na corrida, esperou o goleiro sair e tocou de leve, no canto. 

Depois correu para a lateral e deu um pulo, como quem vai cabecear uma bola alta. contorcendo o corpo e dando um soco com a direita no ar. 

E os jornais contaram o gol de -Tele".  novecentos gols depois, nenhum jornal da Terra escreve errado o apelido de Édson Arantes do Nascimento, Pele. 

E a maioria  dos jogadores, em todo o mundo, comemora os seus melhores gols com o mesmo gesto.

Um sôco no ar - "Isso é uma história antiga. O pessoal do outro bairro vaiava e xingava o nosso time. Quando eu fiz o meu gol saí correndo para o lado da torcida deles e dei um soco no ar. 

Acho que daquela vez dei um soco na torcida. entende?" E. Pelé quem explica, lembrando o tempo
em que jogava na várzea de Bauru, descalço, e ainda não era Pelé. era o Dico. 

Nesse tempo ele jogava no meio-campo. quem fazia os gols era o Serginho. E Pele ainda estava na
dúvida entre jogar na frente e pegar no gol: "Eu só não fui goleiro porque era assim uma espécie de desprestígio pegar no gol, lugar da gente que não sabia jogar com os pés". 

Foi no Sete de Setembro de Bauru (SP) que PeIé (mineiro de Três Corações, nascido sob o signo de Escorpião a 23 de outubro de 1940  jogou de chuteira pela primeira vez, e lá na frente. Ganhou o jogo e 13 mil-réis, que a torcida entusiasmada atirou para ele
 
Mas foi no Baquinho, juvenil do BAC (Bauru Atlético Clube). que Pelé se definiu como goleador, tomando o lugar de Landão Mandioca. "Valdemar de Brito. o técnico, me proibiu de jogar 'pelada' na rua; cada vez que me pegava jogando corria atrás de mim até em casa."


Um soco na cara — Em 1954 Pele estava nadando no rio, quando foram chamar, Tim, técnico do Bangu, do Rio, estava em sua casa, queria contratá-lo. Dona Celeste, sua mãe, não deixou: "O menino é muito novo, tem só catorze anos". De mais a mais, ela não queria que o filho fosse jogador de futebol, como o pai, João Ramos do Nascimento, o Dondinho.
 

-Meses depois, Valdemar de Brito conseguiu convencê-la, levou o menino para o Santos, "um time que agora está em formação, de gente moça, uma família".
"Foi uma confusão danada em casa, minha mãe brigando com meu pai", conta Pele. "Meu primeiro treino foi numa quinta-feira, uma semana depois que eu cheguei. Treinei com os profissionais porque tinha chovido e os homens lá não queriam deixar o juvenil estragar o campo." Valdemar de Brito falou com Lula e Pele entrou no meio-campo, para jogar com Pagão, "Fiz um gol, driblei o Formiga, a turma começou a brincar comigo, a me chamar de Gasolina. 

Assinei uma espécie de contrato nesse dia mesmo, para ganhar 5 contos. Mandava a metade pra casa, pagava 2 de pensão no clube e ficava com 500 pratas. Também fazia um dinheirinho indo buscar cigarro na esquina pro pessoal."
 

A noite ele chorava, com saudade de casa, uma vez tentou até fugir. De dia treinava com Pagão uma jogada que eles chamavam de "tabelinha". Pelé fez três jogos no infantil, jogou um mês no juvenil, outro nos aspirantes. 

Com quinze anos estava no time de cima, enfrentando os suecos do AIK (Santos, 1 a O). Em 1956. Pele tinha dezesseis anos quando foi convocado para a Copa Roca. Estreou com a camisa do Brasil contra a Argentina. perdeu por 2 a 1. mas fez o gol do Brasil.
Em 1957, titular do Santos (quando Vasconcelos quebrou a perna), ganhou a camisa 10 e não a largou mais.


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Esse ano, diz ele, "foi grande": "Num jogo contra o Juventus, na Rua Javari, em São Paulo, a torcida me vaiava sempre que eu pegava na bola. Eu consegui dar dois chapéus nos dois beques; quando a bola caiu, levantei com o bico da chuteira: o goleiro Mão de Onça caiu, agarrando o meu pé, e eu mandei de cabeça para as redes". Era o primeiro de quatro gols.
 

"No dia 19 de junho organizaram um combinado Santos e Vasco para jogar contra o Belenenses. Nós ganhamos de 6 a 1, eu fiz três, dei o passe para os outros três." Nesse dia, pela primeira vez, Pele' foi apontado como "o maior homem em campo". O "Jornal dos Sports", do Rio, disse na primeira página que "para o adversário o jogo de Pele é ofensivo como um soco na cara".


O rei do futebol

"Em 1957, eu fui artilheiro do campeonato paulista, passando dos trinta gols." (Só Feitiço c Humberto foram artilheiros com mais de trinta gols e só Pele, depois, passou dos quarenta.) "Fui passar as férias em Bauru e um dia, quando voltei da pesca, encontro todo mundo se abraçando, pulando, eu tinha sido convocado para a seleção." 
Num jogo-treino contra o Corinthians. o Ari Clemente acertou o joelho de Pele, que não queria mais ir à Suécia, achava que não ia jogar. Foi o Dr. Gosling quem insistiu; "Já imaginou ser campeão do mundo na sua idade?"
 
O titular era Dida, do Flamengo, mas depois do empate com a Inglaterra, Feola chamou Pele: "Você vai entrar. meu filho". "Eu nem dormi, de nervoso. Quando tocou o hino Nacional eu tremi, quase chorei. Com quinze minutos de jogo eu ainda tremia, mas Zito e Didi me ajudaram muito. Quando acabou o jogo eu senti que não saía mais do time."
 

Mas a maior emoção de Pelé, o gol que ele acha seu melhor momento, fui contra o País de Gales. "fies estavam muito fechados na defesa, jogando para o zero a zero. Quando eu fiz o gol, pensei que fosse explodir." A bola veio de Didi e encontrou Pele entre dois beques. Ele matou no peito, não deixou bater no chão, dando uma "puxadinha" para trás. Virou-se, rapidamente, e os beques ficaram. O goleiro imaginou o chute forte, na direita, mas ele colocou. de leve, na esquerda. Foi aí que Pelé começou a ser o Rei.

O dia em que o rei morreu

Em 1962, Pelé teve a segunda contusão de sua carreira: distendeu um músculo no jogo contra a Checoslováquia. Pediu para tomar uma injeção, um anestésico, queria voltar ao campo de qualquer maneira. O Dr. Hilton Gosling não concordou: "Se você jogar, está acabado". Em 1966. Pelé estava sentindo a perna. Cada esforço maior era uma pontada no adutor. Não devia ter jogado, mas jogou, foi caçado em campo. Acabou com outra distensão feia.
 

Vários jornais anunciaram a morte do rei, chegaram a escolher o sucessor. Mas Pelé continua reinando, fazendo gols de placa (uma invenção da torcida carioca, uma placa no Maracanã, para comemorar um dos seus gols mais bonitos, contra o Fluminense, em 1959, depois de driblar vários jogadores, desde o meio do campo). 

Está com novecentos gols em jogos oficiais, mais de um gol a cada cinco dias.
Corno é que Pelé chegou a isso? "Só mesmo sendo um rei", explica o psicólogo João Caivalhais, que dá o seu depoimento: "Pele é perfeito, física e mentalmente. Tem aprimorada capacidade técnica; inteligência abstrato-espacial acima da média: alta consciência profissional; grande capacidade de ajustamento social; perfeita concepção do valor da popularidade: ótimo tempo de reação aos estímulos visuais e auditivos; bom campo visual; ótima capacidade no cálculo de espaços em profundidade, largura e velocidade; bom domínio dos nervos".
 
Júlio Mazei, preparador físico do Santos, professor de Educação Física, confirma: "Pelé é excepcional pela sua distribuição muscular, pelo seu equilíbrio que chega a ser incrível e por sua capacidade de fazer explodir suas reservas físicas".

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