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A HISTORIA DO DINHEIRO NO BRASIL

TEMOS NOSSO DINHEIRO

para alguns poderá ser o fim da mania que têm de guardar cédulas novas que entram em circulação, como se fossem raridades.
Para outros, a certeza de que poderão livrar-se das incômodas cédulas desgastadas pelo uso, cheias de remendos com durex e até mesmo esparadrapo. A partir desta semana, a Casa da Moeda, uma autarquia do Ministério da Fazenda, iniciará a fabricação de cédulas


Com isto, será possível renovar periodicamente o seu meio circulante, de modo a evitar a presença de cédulas cuja duração ideal já se esgotou. E o Brasil deixará de ser, ao lado da China Comunista, um dos dois únicos países com mais de 50 milhões de habitantes que não fabricam o seu próprio dinheiro.

Na América do Sul, Chile, Argentina e Colômbia já o fazem, e o Egito, Tailândia, Indonésia, Paquistão, Turquia, Grécia, Cuba, sem contar as nações desenvolvidas, há muitos anos dispensaram a importação de cédulas. As importações brasileiras atingiam anualmente uma cifra de 3 milhões de dólares, porque um milheiro de cédulas, não importa que valor nominal tenham, custa 7,98 dólares.

Segurança acima de tudo — Fundamental também para a decisão brasileira foi a segurança nacional. As cédulas atualmente em circulação são fabricadas pela American Bank Note Company, de Nova York, e Thomas de La Rue, de Londres.
Segundo um funcionário da Casa da Moeda, o fato de terem as notas brasileiras fabricadas pela firma londrina as mesmas côres nos dois lados e as da American Bank Note côres diferentes já trouxe muita complicação, principalmente aos turistas brasileiros em Portugal, pois as autoridades daquele país chegavam a pensar que uma das duas era falsa. Portugal, aliás, viveu na década de 1920 um dos casos mais espantosos de falsificação de dinheiro: um ardiloso comerciante, Alves Reis, passando por representante do Banco de Portugal, convenceu a Waterlow & Sons, Limited, de Londres — então fornecedora de cédulas para aquele país —, a utilizar matrizes autênticas para fabricar dinheiro encomendado por ele. Até o golpe ser descoberto um ano depois, Alves Reis conseguiu obter quase a sexta parte das reservas monetárias de Portugal, através dessa emissão "particular".


O nosso dinheiro - Entre a criação da Casa da Moeda, em 1695, e a inauguração de suas novas instalações nesta semana, há uma longa jornada em busca da auto-suficiência da produção do dinheiro nacional. A cunhagem de moeda não é problema desde o século XVIII. Ainda agora, com a introdução do cruzeiro nôvo, estão em circulação moedas de I, 2, 5, 10 e 20 centavos. Em 1907 imprimiram-se, pela primeira vez, cédulas no Brasil: eram enormes, no valor de 5 000 réis. Em 1920, a experiência foi repetida com a impressão de dez valores (1, 2, 5, 10, 20, 50, 100, 200, 500 e 1 conto de réis), mas "defeitos técnicos" obrigaram a Caixa de Amortização a suspender sua fabricação. Desde então, outras tentativas foram feitas, até que em 1961 foi possível a fabricação de cédulas de 5 cruzeiros velhos — aquelas com o perfil do índio —, hoje fora de circulação. Em junho de 1966 iniciava-se, na própria área industrial da Casa da Moeda, a construção de um prédio de sete andares, em substituição aos velhos casarões, dos quais só restou o núcleo principal, datado de 1703, que deverá tornar-se a sede-461duseu da Moeda. Nesse nôvo prédio, o Brasil parte decidido para fabricar o seu dinheiro.


A arte da moeda — Foi também em 1966 que Aluísio Magalhães. Professor de desenho industrial e vencedor do concurso para os símbolos do IV Centenário do Rio de Janeiro e da Light, ganhava o concurso para os desenhos das cédulas do cruzeiro novo. Me confessa que no esforço de abandonar os esquemas tradicionais encontrou a maior dificuldade, pois — diz ele — "estávamos presos ao símbolo do dinheiro, cujo universo é restrito porque condicionado milenar e rigidamente na mente popular". Aluísio acentua que o maior avanço dessas novas cédulas é do ponto de vista técnico e não formal. As novas cédulas não terão mais a margem branca encontrada nas antigas, suas dimensões aumentarão de acordo com o seu valor nominal. A de 1 cruzeiro novo será pouco menor que a de agora, e irá aumentando gradativamente de 3 milímetros na altura e 5 milímetros no comprimento, sendo a de 100 cruzeiros novos um pouco maior que a nossa atual de 10 cruzeiros novos. Inicialmente serão fabricadas cédulas nos valores de I e 5 cruzeiros novos, que não serão colocadas imediatamente em uso por dependerem ainda de uma decisão do Banco Central. A cédula de


1 cruzeiro terá a cabeça-símbolo da República e a reprodução do prédio do Banco Central. A de 5 cruzeiros terá em sua parte anterior a efígie de Dom Pedro 1 e, na posterior, cena da chegada da família real ao Brasil. A de 10 cruzeiros terá no verso a efígie de Dom Pedro II e. no reverso, o Profeta Daniel, do Aleijadinho. A de 50, a efígie-4 do Marechal Deodoro da Fonseca e um mural de Portinari, embarque de café. A de 100, no verso, a efígie do Marechal Floriano Peixoto e, no reverso, o Congresso Nacional. A produção da fábrica da Casa da Moeda está prevista para 500 milhões de cédulas anuais, mais que o suficiente para as necessidades do País, com a renovação periódica do meio circulante de quatro em quatro anos.

O nosso dinheiro, comprado a quase 8 dólares por milheiro de notas, será fabricado
agora na Casa da Moeda. Foi criado por Aluísio Magalhães


Admirável nota nova
Uma aparência moderna e simples, de cores suaves e atraentes, assim são as novas cédulas de papel-moeda que o Brasil colocará em circulação a partir de 15 de maio, quando o cruzeiro novo passará a se chamar simplesmente cruzeiro.

Com isso, deixará de ser um dos dois únicos países do mundo (o outro é a China Comunista) com mais de 50 milhões de habitantes que não fabricam seu próprio dinheiro. E assume uma posição de vanguarda ao romper com as linhas que vinham caracterizando as cédulas de quase todos os países desde o século passado. Aloysio Magalhães — vencedor do concurso do Banco Central para desenhar o novo dinheiro brasileiro — afirma que sua preocupação inicial foi criar um novo tipo de cédula, baseando-se no princípio de que o dinheiro é o meio de comunicação visual mais difundido, atingindo ténias as camadas da população. "No mundo atual", diz ele, "em que o homem é bombardeado diariamente por vários meios de comunicação — anúncios, a televisão, o cinema, o rádio —, ninguém tem mais tempo de olhar urna cédula, examinando-a bem.

Uma nota falsa pode passar de mão em mão durante anos até ser melhor observada e destruída, As novas cédulas permitem essa observação, pois os desenhos foram simplificados, para permitir uma fácil identificação."

Dinheiro personalizado — Vencedor de vários concursos de símbolos (IV Centenário do Rio, Banco do Estado de São Paulo, Light, Bienal de São Paulo, etc.), Aloysio — bacharel em Direito que preferiu se dedicar às artes plásticas — conta que no mundo inteiro só houve tentativas isoladas para modificar o conceito de papel-moeda, passando a considerá-lo "objeto-cédula". Deixando de encomendar o seu dinheiro no estrangeiro, o Brasil aproveitou a oportunidade para concebei uma cédula moderna, com personalidade não tradicional, "em busca de sua identidade própria", como afirma Aloysio, No seu trabalho de criação, êle teve de obedecer apenas a algumas diretrizes fixadas pelo Conselho Monetário Nacional: os motivos dos medalhões, a ocorrência da marca de água e o formato das cédulas.


O valor do tamanho — As notas novas variam de tamanho de acordo com o seu valor. De um para outro, a cédula aumenta 5 milímetros no comprimento e 3 na largura. A cédula de CrS 1,00 tem 147 milímetros de comprimento por 66 de largura, a cor predominante é o verde. No anverso consta a efígie sim-

bélica da República e no reverso o antigo edifício da Caixa de Amortização. Na de Cr$ 5,00, o tamanho é de 152 por 69 milímetros e o azul a cor predominante. No anverso, o retrato de Dom Pedro 1; no reverso, a Praça 15 de Novembro, reprodução de um quadro de Leandro Jardim. De 157 por 12 milímetros, a cédula de Cr$ 10,00 tem na sépia a sua côr predominante. Dom Pedro II está no anverso; no reverso, a escultura representando o profeta Daniel, de Aleijadinho, que se encontra no adro do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas. Violeta é a cor predominante na cédula de Cr$ 50,00, de 162 por 75 milímetros.

No anverso, o retrato do Marechal Deodoro da Fonseca e no reverso detalhe do mural "Embarque de Café", de Portinari, existente no salão nobre do Instituto Brasileiro do Café. Na cédula de Cr$ 100,00, medindo 167 por 78 milímetros, a côr predominante é a magenta. O retrato do Marechal Floriano Peixoto está no anverso e a vista do Congresso Nacional, em Brasília, no reverso.
Uma família segura — Várias características de segurança contra falsificação protegem a nova "família" de cédulas brasileiras. Há um fundo de segurança representado pelo próprio fundo do campo da cédula, onde estrias (linhas retas paralelas) e tramas (linhas onduladas que lembram impressões digitais) estão calculadas automaticamente. A faixa horizontal, de talho doce, contrapõe-se uma faixa branca, onde se encontra a filigrana, e, contrabalançando-a, a rosácea com o valor da nota e o medalhão com retratos de figuras históricas. Ainda por medida de segurança, na filigrana há a reprodução do retrato do medalhão, quando se coloca a cédula contra a luz. A impressão simultânea das duas faces

permite que haja coincidência na posição dos números constantes no verso e no anverso. Outra inovação é a ausência da margem branca na nota, comum na antiga, aumentando assim o seu campo visual.


Embora empregando um sistema tecnicamente novo. Aloysio admite que não chegou a atingir ideias extremamente ousadas, porque o dinheiro em padrões bastante avançados poderia não ser aceito pela população toda: "Em certas áreas brasileiras, pouco cultas ou atrasadas, um papel-moeda totalmente diferente poderia até trazer sérios problemas, sendo repelido como coisa sem valor". A concepção de seus desenhos representa, portanto, uma transição da cédula do século XIX — ainda em vigor em quase todos os países — para a cédula contemporânea. Por isso, ele pretende prosseguir em suas pesquisas, movido pela atração irresistível que o dinheiro, afinal, exerce sobre todos nós.



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